Por que Saudade?!
Augusto Bello Filho
I
Já faz tempo! Eu sei.
Mas, por quê se faz tão presente?
Por quê parece tão vivo, tão renovado!
Tão ardente, tão evidente!
Por quê agora se aflora?
Por quê se arvora com tanto ardor?
Se já estava distante,
Sepultado, guardado, sem lembrança:
Tão apagado!
Por quê está tão presente?
Bem na minha frente!
Na minha mente.
II
Não faz parte do passado? Do amor apagado?
Das coisas que se foram?
Que um dia deixei para trás?
Não eram lembranças mortas?
De há muito sepultadas?, esquecidas! Distantes! perdidas?
Por quê se levanta tão de repente?
Por quê se ergue tão sadia?
Dia após dia!
Por quê o que imaginei não existir, existia?
E por quê o que imaginei existir aos poucos se esvaia?
Por quê ressuscita?
Por quê suscita? Por quê então grita?
Por quê se agita dentro de mim?
III
Será que foram as raízes?
Não cortadas?! Não arrancadas?!
Que ficaram encravadas!,
E querem brotar?!
Ou foram sementes espalhadas,
Pelo meio da vida,
Que guardou paciente,
Muitos anos, muitos anos à frente,
E quando tudo parecia calar!
Renovou novamente!?
Querendo me afagar!
IV
Será que foi a chuva,
Que a fez germinar?
Agora não sei!
Não sei o que fazer!
Estou parado, calado, pensando!
Que devo fazer?!
Não posso voltar atrás,
Não posso recomeçar,
E viver os mesmos dias!
Que distantes já vão!
V
Mas, se continuar chovendo!
O que vai acontecer?
Se a planta crescer!
Se a planta crescer novamente!
O que vou fazer?
Até já me peguei:
Parado pensando, caminhando, viajando,
Pelo passado vagando,
Por que saudade?
Por que mexer comigo?
Se nada parecia ter contigo!
VI
Lembrando-me aqueles dias,
Que nunca mais voltarão!
Sim eu sei que nem tudo foi em vão!
Segui pelo caminho,
Que meu coração apontou,
Não sei se foi certo!
Não sei dizer!
O que meu coração falou!
Talvez foi coisa da emoção!
Da emoção que ficou.
Salvador – Ba, janeiro de 1998.